Fotos: Vinicius Becker
O campus sede da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) faz parte da vida do militar da reserva Felipe Corrêa Machado, 53 anos, por um motivo importante. Formado em Ciências Sociais e Serviço Social pela mesma instituição, ele voltou a ser aluno em 2019, agora no curso de Matemática, e encontrou na rotina de estudos uma poderosa forma de enfrentar os avanços de uma doença neurológica.
– Fui diagnosticado com Doença de Parkinson em 2017. Eu andava muito de bicicleta, porque morava na vila do lado da Base Aérea e comecei a notar que meus braços estavam enrijecendo. Depois, começou a tremedeira. No início, foi uma surpresa, porque como militar, fazia inspeção de saúde todo ano e nunca foi detectado nada. Na época, eu cursava Serviço Social na Federal e trabalhava no setor de informática da Base. Então, cheguei a pensar que o enrijecimento dos membros superiores fosse por conta da própria internet, do computador, ou qualquer outra coisa. Para mim, foi uma surpresa enorme – conta.
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A condição de saúde permitiu que Machado se aposentasse depois de 25 anos de serviço na Força Aérea Brasileira. Mas na universidade, a sua missão era outra: continuar estudando apesar das adversidades.
– Senti um impacto principalmente na questão da leitura e da escrita, porque a Doença de Parkinson acaba fazendo com que tenhamos letra menor. Cada vez que eu ia escrever, nem eu entendia o que estava escrito. Sempre fui uma pessoa que lê bastante, mas a doença acaba nos prejudicando a visão e o armazenamento do que se lê. Esses foram os maiores impactos na graduação – relembra.
Apesar dos desafios físicos, Machado concluiu o curso de Serviço Social em 2018. No ano seguinte, ingressou em Matemática. A decisão, segundo o acadêmico, veio após uma série de reflexões sobre a vida, as consequências da doença e o futuro:
– No início, o diagnóstico foi uma tristeza muito grande, porque vemos a Doença de Parkinson como um tabu. Mas comecei a observar que quanto mais atividades eu tinha, menos me preocupava com a doença. E estar em movimento servia até como um incentivo para continuar batalhando, porque a tendência de quem tem Parkinson é se isolar por conta dos sintomas.
Rede de apoio
Machado é casado há 33 anos com a assistente social Mírian De Agostini Machado, 52. Juntos, são pais de Yuri, 31 anos; Jonatan, 27 e Nicole, 16, além de avós das pequenas Scarlet, 3 anos e Geórgia, de apenas 2 meses. Ele conta que, após o diagnóstico, a rede de apoio se expandiu, ganhando cada vez mais aliados na UFSM, na Igreja Presbiteriana de Santa Maria, no Projeto Orquestrando Arte e no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid).
A participação em um grupo de apoio em Santa Maria, o Movimento Parkinson, também tem sido uma fonte de força. Para Machado, a iniciativa, que existe desde outubro de 2023, tem sido um importante espaço de troca de experiências e acolhimento para pessoas com a doença e seus familiares.
– Eu tenho participado e acho interessante porque, infelizmente, não existem tantas organizações públicas no sentido de dar apoio às pessoas que têm Parkinson ou instruções a respeito da própria doença, maneiras de se resolver ou minimizar os problemas – analisa.
Na assistência médica, Machado lembra com carinho do apoio e estímulo de profissionais do Hospital Universitário de Santa Maria (Husm). Desde 2017, ele faz sessões de fisioterapia e fonoaudiologia, que foram essenciais para seu avanço no tratamento. Em agosto de 2023, ele passou por uma cirurgia para implantar um marca-passo cerebral. O procedimento foi realizado no Hospital da Aeronáutica do Galeão (HFAg), no Rio de Janeiro.
– A cirurgia realmente trouxe um benefício muito grande para minha vida. Foi muito importante, porque ele (o marca-passo) minimizou bastante os tremores e a rigidez, que são muito comuns da Doença de Parkinson. Não é uma solução para a doença, mas tem me ajudado bastante – afirma Machado.
Aprender e viver
A graduação em Matemática também abriu portas inesperadas para Machado. Hoje, ele dá aulas de reforço para crianças e adolescentes no projeto Orquestrando Arte e atua no programa Pibid, levando jogos e brincadeiras para que os alunos se divirtam enquanto aprendem. As oportunidades são vistas como uma chance de fazer a diferença e diminuir os estigmas da doença:
– É uma experiência muito boa, porque lecionar é um desafio em que aprendo ensinando. Traz um sentimento de dever cumprido ver eles crescendo nas notas e se desenvolvendo no colégio. O fato de eu estar estudando e tendo outras atividades, muitas além da própria faculdade, também acabou me ajudando a superar a fase da depressão. Graças a Deus, isso foi bem superado e eu devo a isso, principalmente à minha graduação e ao ambiente que vivo em sala de aula – conclui.

O que é a Doença de Parkinson?
Segundo o Ministério da Saúde, a Doença de Parkinson é uma condição neurológica degenerativa e progressiva que afeta principalmente os movimentos. A condição é causada pela degeneração de células no cérebro que produzem dopamina. Os sintomas incluem tremores (principalmente em repouso), lentidão de movimentos, rigidez muscular, e desequilíbrio. Não há cura, mas tratamentos e terapias podem ajudar a controlar os sintomas, melhorando a qualidade de vida do paciente.
Segundo um estudo desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), mais de 500 mil pessoas com 50 anos ou mais vivem com a doença no Brasil.